Hottois1993

Uma consequência não marginal do aspecto relacional é que há um significado profundo em descrever a individuação como fundamentalmente simbólica. Como veremos, G. Simondon retorna com muita frequência a essa noção de símbolo, que desempenha, a nosso ver, um papel absolutamente crucial na compreensão não apenas do que ele diz, mas também da maneira como ele o diz e, em última análise, da própria natureza de seu empreendimento filosófico. O símbolo é aquilo que, embora seja um produto de uma divisão, conota intensamente — constitutivamente — o todo do qual provém e em relação ao qual, sozinho, tem significado. A individuação simbólica é sempre uma separação relativa. O indivíduo que “esquece” essa relatividade e se fecha em si mesmo, afirmando ser, não um símbolo da totalidade, mas a própria totalidade e definitiva, cai da metaestabilidade evolutiva e conhece apenas um destino de morte (por esclerose e desintegração ou autorrepetição tautológica). “O indivíduo é apenas o símbolo complementar de outra realidade, o ambiente associado” (GSIG, p. 71), como aponta G. Simondon. Voltaremos a essa observação — de enorme importância para a filosofia — de que a individuação é apenas simbólica.

A individuação faz sentido (cf. IPC, p. 125 e seguintes). Fazer sentido é o que acontece quando um sistema metaestável, rico em virtualidades e potencial evolutivo, percebe — de dentro ou de fora — um sinal (uma singularidade ativa) que pode ser entendido como informação, ou seja, como in-formação, uma possibilidade real e viável de individuação e, portanto, de autoestruturação que leva a um novo estado provisoriamente estabilizado e, ainda assim, aberto. Dessa forma, o sistema metaestável se reformula — baseia-se em seus antecedentes associados — e se expande, não deixando nem a si mesmo nem ao outro como eram antes do encontro de significados.