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O que é "pessoa"?

Corsi, 2008

É fácil constatar que, para o senso comum, existem no mundo duas classes de entidades: as “coisas” e as “pessoas”. Enquanto as primeiras são objetos de experiência, dotadas de propriedades físicas, de uma localização no espaço e no tempo, de uma estrutura material e de relações causais recíprocas, as segundas são (além disso) sujeitos de experiência. Por “experiência” entendemos, em sentido amplo, qualquer tipo de sensação, percepção ou pensamento. Consequentemente, enquanto todas as pessoas são sujeitos de experiência, nem todos os sujeitos de experiência são pessoas.

Geralmente, assume-se que o conceito de pessoa seja equivalente ao de ser humano. No entanto, por um lado, pode-se discutir se todo ser humano é uma pessoa, e por outro, é perfeitamente concebível que existam pessoas que não são seres humanos. Em geral, o conceito de ser humano é utilizado para responder à pergunta «o que somos?»: uma questão tipicamente científica, relativa às propriedades que unem os seres humanos como membros de uma espécie biológica particular.

Parece, porém, que o conceito de pessoa não é caracterizado pela biologia. Uma pessoa distingue-se de um sujeito de experiência por ser um eu. Mais precisamente, os eus são «sujeitos de experiência que têm a capacidade de reconhecer-se como sujeitos individuais de experiência». Isso implica que as pessoas possuem um conhecimento reflexivo, ou seja, «um conhecimento da própria identidade e dos próprios estados mentais conscientes — conhecimento de quem se é e do que se está pensando e sentindo». O conhecimento reflexivo, por sua vez, acompanha-se da posse de uma perspectiva em primeira pessoa, que se expressa na habilidade de utilizar a palavra “eu” para referir-se compreensivelmente a si mesmo. Assim, o conceito de pessoa implica um elemento crucial de subjetividade.

Posta essa capacidade reflexiva, parece que a pessoa é capaz de reconhecer-se tanto como um ente orgânico dotado de vida biológica quanto como um ente provido de vida pessoal. É essa segunda acepção do termo “vida” que entra em jogo «quando todas as questões científicas relevantes foram resolvidas»; é esse o aspecto pelo qual se diz que a vida é “conduzida” ou “vivida”. Não apenas, de fato, as pessoas mantêm relações físicas com os outros objetos, mas elas são sujeitos de ação, ou seja, agem em conformidade com razões, objetivos, fins, projetos.

Perguntar-se «o que sou?», portanto, é diferente de perguntar-se «quem sou eu?». A pergunta “quem” expressa o problema da identidade pessoal: «O que me fornece minha identidade como identidade desta pessoa particular, diferente de todas as outras?». Uma vez que ser uma pessoa não é apenas ser um animal de uma certa espécie, mas também ser sujeito de ação e de reflexão, parece «impossível caracterizar quem somos, ou mesmo fazer referência explícita a nós mesmos, se não do verdadeiro ponto de vista que nós mesmos adotamos ao ser quem somos», ou seja, daquele ponto de envolvimento constituído pela vida pessoal.

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