====== Merleau-Ponty (FP) – corpo vivo ====== (MPFP) Nestas condições, o **corpo vivo** não podia escapar às determinações que eram as únicas que faziam do objeto um objeto, e sem as quais ele não teria lugar no sistema da experiência. Intro IV Era preciso ligar o fenômeno centrífugo de expressão a condições centrípetas, reduzir esta maneira particular de tratar o mundo que é um comportamento a processos em terceira pessoa, nivelar a experiência na altura da natureza física e converter o **corpo vivo** em uma coisa sem interior. Intro IV O **corpo vivo** assim transformado deixava de ser meu corpo, a expressão visível de um Ego concreto, para tornar-se um objeto entre todos os outros. Intro IV Assim, enquanto o **corpo vivo** se tornava um exterior sem interior, a subjetividade tornava-se um interior sem exterior, um espectador imparcial. Intro IV A idealidade do objeto, a objetivação do **corpo vivo**, a posição do espírito em uma dimensão de valor sem comum medida com a natureza, tal era a filosofia transparente à qual se chegava continuando o movimento de conhecimento inaugurado pela percepção. Intro IV Só posso compreender a função do **corpo vivo** realizando-a eu mesmo e na medida em que sou um corpo que se levanta em direção ao mundo. Intro I Os motivos psicológicos e as ocasiões corporais podem-se entrelaçar porque não há um só movimento em um **corpo vivo** que seja um acaso absoluto em relação às intenções psíquicas, nem um só ato psíquico que não tenha encontrado pelo menos seu germe ou seu esboço geral nas disposições fisiológicas. Intro I A operação toda tem lugar na ordem do fenomenal, não passa pelo mundo objetivo, e apenas o espectador, que atribui ao sujeito do movimento a sua representação objetiva do **corpo vivo**, pode acreditar que a picada é percebida, que a mão se move no espaço objetivo, e em consequência pode espantar-se de que o mesmo sujeito fracasse nas experiências de designação. Intro III Mas é justamente isso que é impossível, uma vez que se reduziu o **corpo vivo** à condição de objeto. Intro III Quando levo a mão ao meu joelho, a cada momento do movimento experimento a realização de uma intenção que não visava meu joelho enquanto ideia ou mesmo enquanto objeto, mas enquanto parte presente e real de meu **corpo vivo**, quer dizer, finalmente, enquanto ponto de passagem de meu movimento perpétuo em direção a um mundo. Intro III Essa revelação de um sentido imanente ou nascente no **corpo vivo** se estende, como o veremos, a todo o mundo sensível, e nosso olhar, advertido pela experiência do corpo próprio, reencontrará em todos os outros “objetos” o milagre da expressão. Intro VI Outrora eu era um homem, com uma alma e um **corpo vivo** (Leib), e agora sou apenas um ser ( Wesen). .. II II Para cada sujeito, assim como para cada quadro em uma galeria de pintura, existe uma distância ótima de onde ele pede para ser visto, uma orientação sob a qual ele dá mais de si mesmo: aquém ou além, só temos uma percepção confusa por excesso ou por falta, tendemos agora para o máximo de visibilidade e procuramos, como ao microscópio, uma melhor focalização, e ela é obtida por um certo equilíbrio do horizonte interior e do horizonte exterior: um **corpo vivo**, visto de muito perto e sem nenhum fundo sobre o qual ele se destaque, não é mais um **corpo vivo**, mas uma massa material tão estranha quanto as paisagens lunares, como se pode observá-lo olhando um segmento de epiderme com a lupa; visto de muito longe, ele perde novamente o valor de vivo, não é mais do que uma boneca ou um autômato. II III O **corpo vivo** ele mesmo aparece quando sua microestrutura não é nem muito, nem muito pouco visível, e este momento também determina sua forma e sua grandeza reais. II III Meu olhar cai sobre um **corpo vivo** prestes a agir, no mesmo instante os objetos que 0 circundam recebem uma nova camada de significação: eles não são mais apenas aquilo que eu mesmo poderia fazer com eles, são aquilo que este comportamento vai fazer com eles. II IV Mas quem? Digo que ele é um outro, um segundo eu mesmo e o sei em primeiro lugar porque este **corpo vivo** tem a mesma estrutura que o meu. II IV Se eu recoloco minhas orelhas, minhas unhas e meus pulmões em meu **corpo vivo**, eles não aparecerão mais como detalhes contingentes. III II